1 - PESQUISA CIENTÍFICA
Nísia Martins do Rosário
A necessidade humana de conhecer faz a história e vai fornecendo elementos formadores da cultura da qual gerações se beneficiam. São os avanços que formam cada palmo da história de uma necessidade humana. Cada geração recebe da anterior aos conhecimentos adquiridos, os resultados conseguidos com a atividade intelectual e existencial. Assim, “naturalmente cavador de respostas, o homem nega-se quando se acomoda à rotina de uma ciência já desenvolvida. (...) Nenhuma geração pode dar-se por satisfeita com um mundo de segunda mão...”[1].
Encontrar respostas para as novas questões, ou solução para aquelas que vem se desenvolvendo é um convite aos homens, cujo conhecimento deve ser aplicado. Mas que “tipo de conhecimento” deve ser utilizado para a busca de respostas.
Vejamos no quadro abaixo, uma comparação dos quatro níveis de conhecimento do ser humano e em que podem contribuir para desvelar as questões ainda incógnitas:
EMPÍRICO | CIENTÍFICO | FILOSÓFICO | TEOLÓGICO |
Popular | Religioso | ||
Valorativo | Real | Valorativo | Valorativo |
Reflexivo | Contingente | Racional | Inspiracional |
Assistemático | Sistemático | Sistemático | Sistemático |
Verificável | Verificável | Não verificável | Não verificável |
Falível | Falível | Falível | Infalível |
Inexato | Aproximadamente exato | Exato | Exato |
Nosso caminho é o do conhecimento científico e, portanto, a pesquisa que dentro dele se enquadra é a científica.
Pesquisa científica é uma atividade voltada para a solução de problemas através do emprego de processos científicos. Ela parte da dúvida, de um problema, para o qual buscam-se soluções através de métodos científicos.
1.1 - TIPOS
As pesquisas científicas podem ser acadêmicas ou “de ponta”.
No primeiro tipo, temos uma atividade pedagógica, cujo objetivo é despertar o espírito de busca intelectual autônoma; é um exercício, uma preparação, um convite à negação-superação de uma rotina, fomentando o espírito de busca. Portanto, seu resultado mais importante não é, exatamente, oferecer uma resposta salvadora para a humanidade, mas a aquisição do espírito e método para a indagação intencional.
A pesquisa de ponta envolve o profissional graduado na problematização, solução e resposta às necessidades que ainda perduram em seu meio, seja porque simplesmente não foram respondidas, seja porque não satisfatoriamente trabalhadas. Aqui temos a busca do novo, do ignorado, com intenção e método.
1.2 - CARACTERIZAÇÃO
Segundo SANTOS[2] as pesquisas são caracterizadas:
– segundo seus objetivos (exploratórias, descritivas, explicativas);
– segundo seus procedimentos de coleta (experimento, levantamento, estudo de caso, bibliográfica, documental; pesquisa-ação, pesquisa participante, pesquisa ex-post-facto, pesquisa quantitativa, pesquisa qualitativa));
– segundo suas fontes de informação (campo, laboratório, bibliografia).
1.2.1 – Segundo objetivos
a) Pesquisa exploratória: Tem por objetivo aproximar-se do tema, criando maior familiaridade em relação ao fato ou fenômeno, prospectando materiais que possam informar a real importância do problema, o que já existe a respeito ou até novas fontes de informação, o que normalmente é feito através de levantamento bibliográfico, entrevistas com profissionais da área, visita a web sites, etc.
b) Pesquisa descritiva: Feita a aproximação com o tema (pesquisa exploratória) é necessário descrever o fato ou fenômeno, por isso, este tipo de pesquisa é um levantamento das características conhecidas, e é realizada normalmente por levantamentos ou observações sistemáticas do fato, do fenômeno ou do problema escolhido.
c) Pesquisa explicativa: Sua função é criar uma explicação aceitável a respeito do fato ou fenômeno que constitui a pesquisa, preocupando-se com os porquês dos fatos, isto é, identificando os fatores que contribuem ou determinam a ocorrência – ou o modo de ocorrer – os fenômenos. Seu objetivo é aprofundar o conhecimento da realidade para além das aparências dos fenômenos – e portanto, envolve elevado nível de responsabilidade do pesquisador com os resultados obtidos.
1.2.2 – Segundo procedimentos de coleta de informações: Coletar informações são procedimentos necessários à construção dos raciocínios em torno de um fato, um fenômeno ou um problema enfocado. Cada pesquisa terá suas peculiaridades quanto a coleta, mas modo geral, são os seguintes os procedimentos-padrão para a coleta de informações em uma pesquisa:
a) Experimento: é a reprodução controlada de um fato ou fenômeno da realidade com o objetivo de descobrir os fatores que o produzem ou que por ele são produzidos. Deve-se: decidir sobre um fato/fenômeno (objeto de estudo); selecionar as variáveis (fatores que provocam ou possam provocar variações no padrão do fenômeno); escolher os instrumentos (modos de controlar e observar os efeitos do processo provocado);
b) Levantamento: é a busca de informação diretamente com o grupo de interesse a respeito dos dados que se quer obter (útil nas pesquisas exploratórias e descritivas). Desenvolve-se em três etapas: (a) aplicação de entrevista, questionário e/ou formulário a uma significativa amostra do universo; (b) tabulação e análise quantitativa dos dados com o auxílio da estatística; (c) aplicação dos resultados ao universo gerador da amostra – levando-se em consideração a margem de erro estatisticamente prevista.
c) Estudo de caso: fundamentalmente é selecionar um objeto, ou um fenômeno, ou um grupo de pesquisa restrito, objetivando o aprofundamento de seus aspectos próprios. Também é estudo de caso, reconhecer em um caso, um padrão científico já delineado, no qual possa ser enquadrado. Por tratar com fatos/fenômenos isolados, o estudo exige do pesquisador equilíbrio intelectual, “olho clínico” e cuidado na generalização dos resultados.
d) Pesquisa bibliográfica: buscar informações ou dados em materiais já elaborados e publicados, seja por meios escritos, gravados mecânica ou eletronicamente (livros, publicações periódicas, fitas de áudio e vídeo, páginas de web sites, relatórios de simpósios/seminários, anais de congressos, etc.). A validade da pesquisa bibliográfica está diretamente relacionada ao tipo de material coletado – que seja reconhecido cientificamente – e ao uso que se fará dele.
e) Pesquisa documental: utilizam-se na pesquisa, documentos que contém informações em relação ao objeto, e que ainda não estão organizados ou tratados analíticamente e publicados (tabelas estatísticas, relatórios de empresas, documentos arquivados em repartições públicas, associações, igrejas, hospitais, sindicatos; fotografias, obras originais, correspondência pessoal ou comercial, etc.).
f) Pesquisa-ação: para SANTOS[3] a pesquisa-ação é aquela que acontece quando qualquer dos processos é desenvolvido considerando pesquisadores e pesquisados no mesmo trabalho, já que a ambos interessa a criação de respostas imediatas para uma certa necessidade.
g) Pesquisa participante: caracteriza-se pelo fato de o pesquisados ser, ele mesmo, um dos dados pesquisados. O fato de pesquisador ser também pesquisado não impede a pesquisa, apenas requer um maior discernimento no momento de avaliar os dados.
h) Pesquisa ex-post-facto: é realizada quando se examina um fato/fenômeno que já está pronto, anterior ao controle do pesquisador. Assim, a tarefa do pesquisador não será de acompanhar o desenvolvimento desse fato e controlar as suas variáveis, mas de avaliar, pesquisar, analisar o que já foi desenvolvido.
i) Pesquisa quantitativa: é a pesquisa onde o importante é a coleta e a análise quantificada dos dados, e de cuja quantificação os resultados automaticamente aparecem. Em geral, essa pesquisa utiliza-se de dados estatísticos e técnicas como contagem, cruzamento de dados, questionários, formulários. Para a apresentação dos resultados podem ser utilizados, gráficos, tabelas e outros recursos do gênero.
j) Pesquisa qualitativa: é a pesquisa cujos dados só fazem sentido através de um tratamento lógico secundário feito pelo pesquisador, que não exige a medição estatística, tampouco a quantificação dos dados. A coleta de dados não precisa se restringir a respostas fechadas e/ou objetos de uma mesma classe e, assim, os resultados se impõem como evidência empírica imediata. Neste caso, é importante ressaltar que os resultados dependem do tratamento lógico resultante do “olho clínico” do pesquisador, da sua capacidade de avaliação e discernimento em relação ao objeto/fenômeno/grupo estudado.
1.2.3 – Segundo a fontes de informação: os lugares ou as situações de onde se extraem os dados ou de que a pesquisa necessita constituem as fontes de informação, que são três: o campo, o laboratório e a bibliografia.
a) Campo: é o lugar natural onde os fatos e fenômenos acontecem. Na pesquisa de campo, os dados são colhidos in natura, como percebidos pelo pesquisador (observação direta, levantamento ou estudo de caso).
b) Laboratório: é a reprodução dos fenômenos de forma artificial e controlada, para melhor percebê-los, observá-los ou captá-los e assim descrevê-los e analisá-los de forma adequada, porque, muitas vezes, os mecanismos naturais de observação, análise e descrição no campo se tornam insuficientes em alcance ou acuidade.
c) Bibliografica: é a utilização de dados ou informações já organizadas, descritas, analisadas e publicadas como matéria-prima para raciocínios e conclusões a respeito de fatos e fenômenos pesquisados. É a fonte de informação que deve “encabeçar” qualquer processo de busca científica.
[1] SANTOS, Antônio Raimundo. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 2ª ed., 1999. p. 22.
[2] SANTOS, Antônio Raimundo. Op. cit., p.26-31.
[3] SANTOS, Antônio Raimundo. Op cit. p.30. Para o autor a pesquisa ação, a pesquisa participante, a pesquisa ex-post-facto, a pesquisa quantitativa e a pesquisa qualitativa não se tratam de procedimentos novos, mas modalidades de aplicação dos procedimentos anteriormente vistos, dentro de algumas condições específicas.
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