Que me dêem uma boa razão para que os jovens se apaixonem pela ciência. Para isto seria necessário que os cientistas fossem também contadores de estórias, inventores de mitos, presença mágica em torno das quais se ajuntassem crianças e adolescentes.
E eles me dizem que os mitos não puderam ser ouvidos. O ruído da guerra e o barulho das moedas era forte demais, quanto à flauta, parece que estava desafinada. O mais provável é que o flautista se tivesse esquecido da melodia.
E os mais lúcidos sabem disto, porque não se esqueceram de sonhar. Em 1932, Freud escreveu uma carta a Einstein que fazia uma estranha pergunta afirmação:"Não será verdade que toda ciência contém, em seus fundamentos, uma mitologia?" Dirão os senhores que não pode ser assim. Que mitologia e coisa da fantasia, de falsa consciência, de cabeça desregulada. Já a ciência é fala de gente séria,pés no chão, olhos nas coisas, imaginação escrava da observação.
Pode ser mas muita gente pensa diferente, primeiro amar para depois conhecer. Conhecer para poder amar. Porque se se ama,os olhos e os pensamentos envolvem o objeto, como se fossem mãos, para colhê-lo. Pensamento a serviço do corpo,ciência como genitais do desejo, para penetrar no objeto, para se dar ao desejo, para experimentar a união, para o gozo.
É aquele mundo estranho e de cabeça para baixo, como Pinóquio e às avessas ou nas inversões do espelho das aventuras de Alice, conhecimento não é coisa de cabeça e nem de pensamento, é cosa do corpo inteiro, dos rins, do coração, dos genitais.
E é esta pergunta que estou fazendo: que mágico, dentre nós, será capaz de conduzir o fogo do amor pela ciência?
Que estória contamos para explicar a nossa dedicação?
Que mitos celebramos que mostrem aos jovens o futuro que desejamos?
Claro que não foi sempre assim,ouve tempo em que o cientista era ser alado, imaginação selvagem que explicava às crianças e os jovens os gestos de suas mãos e os movimentos de seu pensamento,apontado para um novo mundo que se anunciava no horizonte . Terra sem males, a natureza a serviço dos homens, o fim da dor, a expansão da compreensão, o domínio da justiça.
Estes eram mitos que diziam de amor, harmonia, felicidade, estas coisas que fazem bem á vida e invocam sorrisos. Quem não se alistaria como sacerdote de tão bela esperança?
Foram-se os mitos do amor.
Restaram os mitos do poder.
As guerras entre os mundos, os holocaustos nucleares, os super-heróis de cara feia, punho cerrados e poder imbatível.
A ciência mudou de lugar, e com isto mudaram-se também os mitos. Que estória contamos para fazer nossas crianças e nossos jovens amar o futuro que a ciência lhe oferece?
Falaremos sobre o fascínio das usinas nucleares?
Que sabe os levaremos a visitar Cubatão. Protestarão de novo, dizendo que não é ciência. Como não? Cubatão não será filha, ainda que bastarda, da Química, da Física, da Tecnologia, em seu casamento com a política e a economia?
Podemos fazer um passeio de barco no rio Tietê. Sei que não foi intenção da ciência, sei que não foi planejado pelos cientistas.
Sem isto, a parafernália educacional permanecerá flácida e impotente.Porque sem uma grade paixão não existe conhecimento.
Rubens Alves
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